Por exemplo: na Fazenda Nova Agro, na Chapada do Apodi, no Leste do Ceará, em alguns talhões (área de solo que, para efeito agrícola, representa uma unidade mínima de cultivo de uma propriedade, geralmente definida em função de seu relevo e do planejamento da lavoura, de acordo com o Google), as chuvas já alcançaram, até ontem, a marca de 239 milímetros, “bem acima da média”, como informa o dono da gleba, o agroindustrial Raimundo Delfino, que lembra: “Ainda faltam 10 dias para o fim deste mês de janeiro.”
Cristiano Maia, dono de fazendas agropecuárias na região do Jaguaribe, revela: as chuvas que até agora desabaram sobre suas propriedades “já fizeram sangrar alguns açudes”. Ele engrossa o entusiasmo de alguns dos seus colegas empresários do agro cearense, os quais apostam numa quadra de chuvas na média ou acima da média histórica.
Dependentes 100% da água da chuva, os empresários cearenses da agricultura e da pecuária acompanham o desenrolar deste “inverno” com lentes de lupa e com olhos voltados para os mais importantes organismos brasileiros, inclusive a Funceme, que monitoram o clima no país. Pelas redes sociais, eles trocam informações, fotos e vídeos das precipitações que se registram em suas fazendas.
Além da Nova Agro, a Fazenda Lagoa da Pedra, do agropecuarista José Antunes, em Ibaretama, no Sertão Central do estado, é outra beneficiada pela natureza: nestes 21 dias de janeiro, seus pluviômetros – instalados pelos 380 hectares da área – já registraram 178 milímetros de boas chuvas. Antunes disse à coluna que as chuvas o levaram a iniciar, há 15 dias, o plantio de capim – para a alimentação do seu rebanho leiteiro – e hortaliças (coentro e cebolinha), cuja produção é comercializada nas feiras livres e no mercado das cidades de Ocara e Ibaretama.
“Não tenho dúvida de que teremos bom inverno. E acho que, pelo que estão indicando esses institutos ligados ao estudo do clima, as chuvas deste ano serão ou na média ou acima da média”, diz José Antunes.
Nos municípios litorâneos, a pluviometria é também intensa. Em Cascavel, no Litoral Norte, na sexta-feira passada, desabou uma chuva que alcançou 150 milímetros – uma chuva só. No mesmo dia, em Paraipaba, no Litoral Norte, onde se encontrava Cristiano Maia visitando sua fazenda Samaria, de criação de camarão, “choveu forte durante dois dias”, como ele disse.
Mas uma espécie de “mapa da chuva” – que circula nas mesmas redes sociais – revela que, em outras regiões do Ceará a estiagem prossegue, como na área de Crateús e na dos Inhamuns, que são, digamos assim, desafortunadas: seus índices de pluviometria são raquíticos, geralmente aquém da média estadual.
Ontem, empresários do agro trocaram mensagens a respeito do tema, levantando a necessidade de o Projeto São Francisco, um empreendimento do Governo Federal, retomar o bombeamento das águas do rio de mesmo nome para o Ceará, para o Oeste da Paraíba e para o Oeste do Rio Grande do Norte.
“Temos de aproveitar este início da estação de chuvas para fazer esse bombeamento. Com os rios e riachos voltando a correr, aumenta a velocidade da água, reduzindo, consequentemente, as perdas por infiltração”, como disse José Antunes.
Mas ontem o governo do Estado, por meio do seu Sistema de Recursos Hídricos, anunciou que amanhã, quarta-feira 22, às 9 horas, no Palácio da Abolição, o presidente da Funceme, Eduardo Sávio Martins, apresentará o prognóstico oficial da instituição para o trimestre Fevereiro-Março-Abril.
O último prognostico da Funceme, apresentado em novembro do ano passado, indicou que, no trimestre Dezembro-Janeiro-Fevereiro, haveria 45% de possibilidade de as chuvas serem na média ou abaixo da média. Por enquanto, pelo que se levantou até agora, elas estão – no Litoral, nas chapadas do Apodi e Ibiapaba e em alguns municípios do Sertão Central – na média ou acima da média.