A deflagração da segunda fase da Operação “Simulatio”, conduzida pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) e divulgada nesta segunda-feira (20), provocou um verdadeiro reboliço nos bastidores da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece). A Casa, que está em recesso até o início de fevereiro, viu o episódio se transformar em uma crise entre o Legislativo e o órgão responsável pela investigação.
Conforme apurado pela Coluna nos bastidores, os desdobramentos da operação, que investiga um deputado estadual suspeito de utilizar cargos de assessoria parlamentar para saldar dívidas com um advogado que atuava como agiota, geraram desconforto em várias frentes no Legislativo.
O primeiro ponto de insatisfação dos deputados, apurou esta coluna nos bastidores, diz respeito ao teor da nota divulgada pelo MPCE, que revelou detalhes de um suposto esquema sem mencionar o nome do parlamentar investigado. Na avaliação de líderes e integrantes da Casa, a ausência de identificação do deputado deixou todos os 46 parlamentares da Alece sob suspeita.
"Isso coloca todos nós no mesmo pacote. É como se estivéssemos sob investigação, o que é uma grande injustiça", desabafou à Coluna um deputado que pediu para não ser identificado.
Nos corredores da Casa, a reclamação é unânime: a falta de nomes é vista como uma estratégia que prejudica a imagem coletiva do Poder Legislativo.
Outro motivo de irritação surgiu a partir da divulgação da operação nas redes sociais oficiais do MPCE. A postagem, que inicialmente trazia a foto de um homem de gravata, mas sem o rosto (apenas o tronco aparecia), foi considerada pelos deputados como um reforço do recado coletivo à Assembleia.
A leitura de boa parte dos deputados é que a imagem utilizada sugeria que o Legislativo, enquanto instituição, estava sendo colocado no banco dos réus.
A repercussão da postagem gerou reações imediatas. Esta coluna apurou que o alto comando da Alece teria feito contato direto com o comando do órgão para manifestar insatisfação, o que resultou na exclusão da publicação nas redes.
A terceira reclamação dos parlamentares diz respeito ao ‘timing’ da operação. A Alece encontra-se em recesso legislativo, e a presidência da Casa está sendo ocupada, de forma interina, pelo deputado Fernando Santana (PT), que aguarda a posse de Romeu Aldigueri (PDT), já eleito para o comando do Legislativo, e cuja posse está marcada para 1º de fevereiro.
Nos bastidores, a percepção é de que a divulgação nesse período fragilizou a posição do Legislativo diante da opinião pública, já que o interino não teria a mesma legitimidade para articular uma resposta institucional robusta.
Sobre o parlamentar investigado, a Coluna apurou que não se trata de um deputado novato ou com pouca relevância na Casa. Pelo contrário: é um integrante da base governista com certo destaque nas articulações e debates.
A coluna, entretanto, manterá o sigilo por não ter tido acesso ao processo.